sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Nostalgia


Duas almofadas, uma cadeira na varanda em um fim de tarde nublado, fones no ouvido e um livro de romance. Era assim que ela fugia do mundo, fingindo que não havia nada de errado.
Entre uma página e outra, um olhar pensativo lançado para o céu cheio de nuvens formando uma infinidade de desenhos e um longo suspiro.
De repente, uma reviravolta na história. Dois personagens principais, algumas frases clichês, duas ou três exclamações e o tão esperado beijo apaixonado. Era nessas partes que ela decidia parar de ler, então, se lançava para dentro de sua própria história, retomava seus próprios beijos apaixonados e as desilusões que se seguiram depois.
Não valia a pena voltar no passado e reviver tudo de novo, aquilo só fazia com que o processo de esquecimento fosse mais difícil e doloroso.
É claro que ela sabia que toda história tinha um ponto final, mas desejava secretamente que a sua tivesse tido uma quantidade maior de páginas.
Queria poder contar pra alguém, mas já fazia tanto tempo... As amigas provavelmente julgariam se soubessem que ela guardava sentimentos de tanto tempo atrás que só a fizeram sofrer.
Sacudiu a cabeça em uma tentativa inútil de afastar os pensamentos, então foi até a cozinha e preparou uma xícara de chocolate. Logo, à tarde nublada se transformou em uma noite fria e cinzenta. A casa estava completamente vazia. Todos com algum compromisso ou convite de última hora que ocuparia todo o fim de semana.
Ela gostava do silêncio, mas não da solidão.
Algumas horas com a televisão ligada sem realmente assistir nada e então sem razão as lembranças começaram a voltar, uma a uma preenchendo toda a sua mente e doía, doía muito. Mas era preciso desabafar.
Uma folha de papel em branco, uma caneta, mil lembranças... E logo surgiu a primeira letra maiúscula.
Escrever nunca fora seu forte, a pesar de todos sempre terem elogiado suas redações na escola e de gostarem das pequenas histórias que escrevia sem compromisso quando era uma adolescente com muito tempo livre.
Já fazia tempo que não tentava organizar suas idéias no papel, se transformar em outro alguém e viver sua própria história por um ângulo diferente. Mas antigamente, escrever dava a ela a sensação de nunca estar sozinha, pois estava sempre cercada de seus personagens.
Então mentalmente escolheu alguns nomes aleatórios e começou a escrever a história que há muito estava sufocada na parte mais profunda de seu coração.


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